27 novembro 2007

Na vida o essencial é amar!

Amigos,

Hoje, ao rever uns textos que escrevi, encontrei um que me lembrou de vocês e da nossa conversa no último encontro.
Deixo-o aqui, para que pensem nas suas personagens e quem é que elas representam vossas vidas! =)


Era uma vez um velho e um menino…
O velho estava a caminhar junto ao mar no seu ritmo calmo. Estava a fazer o seu passeio matinal como fazia todos os dias da semana com os seus ténis azuis de sola branca, às 10 h da manhã. Ele gostava de sentir o ar matinal, de contemplar o mar e de meter conversa com os pescadores. Ouvia-se sempre os pescadores dizerem com um sorriso: “Olá! Bom dia meu senhor! Tudo bem?”.
Mas nessa manhã houve algo diferente. Enquanto passeava com as mãos atrás das costas em frente do forte onde se viam as gaivotas a pousar e o bater das ondas, reparou num menino sentado no cimo de um dos seus muros altos a chorar. As pernas dele estavam cruzadas e abraçava com os dois braços os joelhos que tinha contra o peito. Parecia olhar para o horizonte e escorriam-lhe lágrimas gordas pela face. O velho ficou com o coração pequeno e apertado, subiu com cuidado as escadas de pedra que iam dar até ao cimo do muro e sentou-se devagar e com algum esforço a uns dois metros do menino, também a observar o mar…
O menino parecia não ligar, continuava com o seu olhar fixo, longe, perdido nos sentimentos que o faziam chorar. Faziam chorar por angústia, por desencontro, por causa de uma solidão que não é real, mas que sentia. Porque por vezes parecia que não tinha ninguém para contar todos os seus segredos, que não tinha ninguém para contar os seus dias, as brincadeiras, as traquinices, as aventuras. Porque vivia alegre e feliz, mas sentia que às vezes ficava sem companhia para brincar. E foi enquanto pensava, que reparou de repente que tinha um velhinho sentado ao lado dele. Virou-se para ele e sorriu, enquanto as suas lágrimas continuavam a escorrer em silêncio. O velhinho respirava fundo e pausadamente. Transmitia calma, conforto, serenidade. Os seus olhos castanhos brilhavam e faziam sentir a sua experiência, rodeados pelas ligeiras rugas que tinha. O menino sentiu que também o velhinho já devia ter passado por muitos momentos iguais e foi na magia do entendimento e da sintonia que se criou que esboçaram em simultâneo um sorriso mais profundo.
Mantiveram-se em silêncio por mais algum tempo e só quando estavam de novo os dois a contemplar o que os rodeava, o velhinho falou, no momento em que o sol abriu e substituiu o reflexo cinzento das nuvens pelo azul do mar. O velhinho disse umas palavras bem baixinho que o menino quase nem ouviu. Pareceu-lhe ter ouvido falar de amor, na certeza que ele traz e no coração. Ficou a tentar relembrar os sons que tinha ouvido para reconstruir a frase na sua cabeça, e quando ia de novo olhar para o lado já animado e brincalhão, naquela transição de estados de espírito que só as crianças conseguem ter, reparou que o velhinho já não estava lá. Parecia que se tinha tornado ágil e saído no mesmo silêncio e tranquilidade com que aparecera. No seu lugar estava apenas uma pequena pedra que o menino pegou e guardou no bolso que não tinha rasgado no fundo, para não a perder.
O menino só sabe que nunca esqueceu o velhinho e o seu murmúrio. Quando se sente triste volta sempre lá ao velho muro do forte para olhar o mar e contemplar. E de todas as vezes, vem com uma força maior e renovada. De cada vez traz uma pedrinha nova que guarda sempre consigo no bolso e que coloca numa caixinha quando chega a casa. Para nunca se esquecer que na vida o essencial é amar…

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