26 fevereiro 2008

Oração, jejum e misericórdia

Hoje na minha oração da manhã deparei-me com uma leitura que gostaria de partilhar convosco.
Trata-se de um texto de são Pedro Crisólogo (grego que significa palavra de ouro). Bispo de Ravena, Itália, que viveu no século V (406-450). O seu sermão, assim se chamam os seus escritos, pode ajudar-nos um pouco à nossa reflexão quaresmal.

Diz-nos São Pedro:

«Há três coisas, irmãos, pelas quais se confirma a fé, se fortalece a devoção e se mantém a virtude: a oração, o jejum, e a misericórdia. O que pede a oração, alcança-o o jejum e recebe-o a misericórdia. Oração, jejum e misericórdia: três coisas que são uma só e se vivificam mutuamente.»

Diz-nos mais:

«O jejum é a alma do da oração, e a misericórdia é a vida do jejum. Ninguém tente dividi-las, porque são inseparáveis. Quem pratica apenas uma das três, ou não as pratica todas simultaneamente, na realidade não pratica nenhuma delas. Portanto, quem ora, jejue, e quem jejua, pratique a misericórdia. Quem deseja ser atendido nas suas orações nas suas orações, atenda as súplicas de quem lhe pede, pois aquele que não fecha os seus ouvidos às súplicas alheias, abre os ouvidos de Deus às suas próprias súplicas.»

Depois explica-nos, de uma forma muito bonita o que é o jejum.

«Quem jejua, entenda bem o que é o jejum: seja sensível à fome dos outros, se quer que Deus seja sensível à sua; seja misericordioso, se espera alcançar misericórdia; compadeça-se, se pede compaixão; dê generosamente, se pretende receber. Muito mal suplica quem nega aos outros o que pede para si.»

e continua:

«Homem, sê para ti mesmo a medida da misericórdia; deste modo alcançarás misericórdia como quiseres, quanto quiseres e com a prontidão que quiseres; basta que te compadeças com generosidade e prontidão.
Façamos, portanto, destas três virtudes - oração, jejum, misericórdia - uma única força mediadora junto de Deus em nosso favor; sejam para nós uma única defesa, uma única operação sob três formas distintas.
Oferece a Deus a tua alma (...) mas para que esta oferta seja aceite a Deus, deve acompanhá-la a misericórdia; o jejum não dá fruto se não for regado pela misericórdia; seca o jejum se secar a misericórdia; o que a chuva é para a terra é a misericórdia para o jejum.»

Conclui assim:

«Tu que jejuas, não esqueças que fica em jejum o teu campo se jejua a tua misericórdia; pelo contrário, a liberalidade da tua misericórdia encherá de bens os teus celeiros. Portanto, ó homem, para que não venhas a perder por teres guardado para ti, distribui aos outros para que venhas a recolher; dá a ti mesmo, dando aos pobres, porque o que deixares de dar aos outros, também tu o não possuirás.»

Sermo 43: PL 52, 320. 332
É, certamente, um texto muito bonito e que nos pode ajudar a compreender certas dúvidas que possamos ter. O autor tem uma visão muito bela e muito verdadeira do verdadeiro sentido do jejum, da misericórdia e da oração.
Estes pequenos ensinamentos, já muitos antigos, não deixam de ser sempre muito actuais. Apesar de escritos para uma outra realidade e num outro contexto, não deixam de ser actuais e sempre vivos para os nossos corações.

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