15 março 2008

O essencial é invisível aos olhos

Porque sei que o sabem interpretar hoje melhor do que nunca, fica este post em jeito de prenda:

“- Não posso brincar contigo, disse a raposa. Ainda ninguém me cativou.

- Ah! desculpa, disse o principezinho.

Mas depois de ter reflectido, acrescentou:

- O que quer dizer «cativar»?

- Tu não és daqui, disse a raposa, o que é que procuras?

- Procuro os homens, disse o principezinho. Que quer dizer «cativar»? (...)

- É uma coisa muito esquecida, disse a raposa. Significa «criar laços...».

- Criar laços?

- Isso mesmo, disse a raposa. Para mim não passas ainda de um rapazinho muito parecido com cem mil rapazinhos. E não preciso de ti. E tu também não precisas de mim. (...) Mas, se me cativares, teremos necessidade um do outro. Para mim serás único no mundo... (...) se me cativares a minha vida ficará como que iluminada pelo sol. Conhecerei um ruído de passos que será diferente de todos os outros. Os outros passos fazem-me meter debaixo da terra. (...) Os teus chamar-me-ão para fora da toca como uma música. E além disso, olha! (...) O trigo para mim é inútil. Os campos de trigo não me dizem nada. E isso é triste! Mas tu tens cabelos de ouro. Então será maravilhoso quando me tiveres cativado! O trigo, que é dourado, far-me-á lembrar de ti. E amarei o som do vento no trigo...

- Por favor... cativa-me!

“- Só se conhece as coisas que se cativam, disse a raposa. Os homens já não têm tempo para conhecer o que quer que seja. Compram coisas feitas nos comerciantes. Mas como não existem comerciantes de amigos, os homens já não têm amigos. Se queres ter um amigo, cativa-me! (...)

- É necessário ser paciente, respondeu a raposa. Sentas-te primeiro um

pouco longe de mim, assim, na erva. (...) Mas, de dia para dia, poderás sentar-te um pouco mais perto...

No dia seguinte o principezinho voltou.

- Era preferível teres voltado à mesma hora, disse a raposa. Se vieres, por

exemplo, às quatro da tarde, a partir das três começarei a sentir-me feliz. Quanto mais a hora avançar, mais me sentirei feliz. Chegadas as quatro horas já estaria agitada e inquieta; descobriria o preço da felicidade! Mas se vieres a qualquer hora, ficarei sem saber a que horas hei-de vestir o meu coração... Os rituais são necessários.

- O que é um ritual? Disse o principezinho.

- É também qualquer coisa de demasiado esquecido, disse a raposa.

Aquilo que faz com que um dia seja diferente dos outros dias, uma hora das outras horas.”

“- Adeus, disse…

- Adeus, disse a raposa. Eis o meu segredo. É muito simples: só se pode ver bem com o coração. O essencial é invisível aos olhos.

- O essencial é invisível aos olhos, repetiu o principezinho de modo a poder recordar-se.

- É o tempo que perdeste com a tua rosa que torna a tua rosa tão importante.

- É o tempo que eu perdi com a minha rosa… disse o principezinho para se recordar.

- Os homens esqueceram esta verdade, disse a raposa. Mas tu não deves esquecer-te. Tornaste-te para sempre responsável por aquilo que cativaste. Tu és o responsável pela tua rosa…

O Principezinho, XXI



1 comentário:

Ana Rita Sempiterno disse...

Gostei imenso destes excertos do livro do Principezinho…Adorei especialmente a parte da raposa e da amizade: -"primeiro tens de me cativar" - "Se começares a passar todos os dias à mesma hora, eu começarei a esperar por esse momento". O principezinho cativou a raposa, e depois chegou o momento da partida. Ela disse-lhe que fosse, pois veria o seu cabelo nas espigas do trigo.
Ensina novas definições de cativar, de efémero e acima de tudo da palavra amizade!

A AMIZADE É UM SENTIMENTO CONCRETO, ABSOLUTO E SEM IGUAL.
SOMENTE AQUELES QUE ENTENDEM O VALOR DE UMA SINCERA AMIZADE, SÃO CAPAZES DE LER O QUE SE PASSA NO CORAÇÃO DO SEU PRÓXIMO.
COM ELA, APRENDEMOS A AMAR E A PERDOAR, DAR SEM RECEBER,
SEMEAR A ESPERANÇA SEM DAR-SE CONTA DO QUE SE FAZ.....


Ana Rita Sempiterno