No último encontro estivemos a reflectir sobre a mensagem que o Papa Bento XVI nos deixou para esta Quaresma. Dividimo-nos em grupos de trabalho e chegámos a algumas conclusões que são importantes reter.
Justiça: “dare cuique suum”
O Santo Padre começa por dar-nos uma definição da palavra “justiça”. Segundo Ulpiano, jurista romana do século III, ser justo, impleca “dar a cada um o que é seu – dare cuique suum”. Porém, aquilo de que o homem mais precisa não lhe pode ser garantido por lei. Para gozar de uma existência em plenitude, precisa de algo mais intimo que lhe pode ser concedido somente gratuitamente: poderíamos dizer que o homem vive daquele amor que só Deus lhe pode comunicar, tendo-o criado á sua imagem e semelhança. São certamente úteis e necessários os bens materiais mas a justiça distributiva não restitui ao ser humano todo o que lhe é devido.
De onde vem a injustiça?
O evangelista Marcos refere as seguintes palavras de Jesus: “Nada há fora do homem que, entrando nele, o possa tornar impuro. Mas o que sai do homem, isso é que o torna impuro. Porque é do interior do coração dos homens, que saem os maus pensamentos” (Mc 7,14-15.20-21). Muitas das ideologias modernas partem do presuposto que a injustiça vem “de fora” e que para que reine a justiça é suficiente remover as causas externas que impedem a sua actuação. Mas Jesus diz-nos que a injustiça, fruto do mal, não tem raízes exclusivamente externas; tem origem no coração do homem, onde se encontram os germes de uma misteriosa conivência com o mal. O homem torna-se frágil por um impulso profundo, que o leva a afirmar-se acima e contra os outros. Substituí-se á lógica de confiar no Amor aquela da suspeita e da competição, experimentando como resultado uma sensação de inquietação e de incerteza. Como pode o homem libertar-se deste impulso egoísta e abrir-se ao amor?
Justiça e Sedaqah
No coração da sabedoria de Israel encontramos um laço profundo entre fé em Deus e justiça em relação ao próximo. Em hebraico a palavra sedaqah (virtude da justiça) exprime-o bem. Significa, dum lado a aceitação plena da vontade do Deus de Israel; do outro, equidade em relação ao próximo, de maneira especial ao pobre, ao estrangeiro, ao órfão e á viúva. Mas os dois significados estão ligados, porque o dar ao pobre, nada mais é senão a retribuição que se deve a Deus, que teve piedade da miséria do seu povo. Aescuta da Lei , pressupõe a fé no Deus que está atento ao grito do pobre e em resposta pede para ser ouvido. Para entrar na justiça é portanto necessário sair da ilusão de auto–suficiência, do estado profundo de fecho, que á a própria origem da injustiça. Por outras palavras, é necessário uma libertação do coração, que a palavra da Lei, sozinha, não consegue realizar. Existe portanto para o homem esperança de justiça?
Cristo, justiça de Deus
A justiça de Cristo é antes de mais a justiça que vem da graça. A justiça divina, manifesta-se muito para além da justiça humana. Deus pagou por nós no seu Filho um preço verdadeiramente exorbitante para nos dar a Salvação.
Compreende-se então como a fé não é um facto natural, cómodo, óbvio: é necessário humildade para aceitar que se precisa que um Outro me liberte do “meu”, para me dar gratuitamente o “seu”. Isto acontece particularmente nos sacramentos da Penitencia e da Eucaristia. Graças à acção de Cristo, nós podemos entrar na justiça “maior”, que é aquela do amor, a justiça de quem se sente em todo o caso sempre mais devedor do que credor, porque recebeu mais do que aquilo que poderia esperar.
Que consigamos todos nós construir então um mundo mais justo. Que este tempo penitencial seja para cada cristão tempo de autentica conversão e de conhecimento intenso do mistério de Cristo, que veio para realizar a justiça.
Desejamos a todos uma boa caminhada nesta quaresma!
(Podem consultar a mensagem integral de Sua Santidade o Papa em http://www.jornalw.org/index.
Sem comentários:
Enviar um comentário