15 abril 2007

A Caixa Dourada

Sempre que temos catequese, ao aceder ao coro da Igreja de São Lourenço (Carnide) para realizarmos o nosso encontro semanal, passamos por uma sala escura e genuflectimos ou inclinamo-nos diante de uma caixa dourada agarrada à parede. O mesmo fazemos quando saímos. Então ocorre-me a pergunta: porque razão nos ajoelhamos/inclinamos perante aquele cubo dourado sempre que em frente dela passamos? Gosto de saber a razão pela qual faço o que faço e não faz sentido fazer uma vénia a alguma coisa/alguém sem sabermos o que isso representa.
Na verdade, aquela caixa, que se chama sacrário, não está vazia. Aliás, o importante está dentro dela. E dentro dela encontram-se as hóstias, aquilo que comungamos quando vamos à Missa. Mas, então isso significa que veneramos umas simples partículas circulares de massa de trigo? Não, não se trata disso. Efectivamente, em termos químicos, as hóstias são apenas constituídas por água e farinha. Mas, para nós cristãos, as hóstias representam Cristo, o Cristo que se deu por nós e que vive entre nós!
Cristo está vivo nos simples!
Cristo está vivo nos pacificadores!
Cristo está vivo nos que dão a mão!
Cristo está vivo nos que lutam pela justiça!
Cristo está vivo nos que dão a vida pelos outros!
Cristo está vivo nos gestos de partilha!
Cristo vive quando comungamos todos do mesmo pão na Eucaristia!
Foi com um gesto de partilha, na Última Ceia, que Jesus se despediu, sabendo que no dia seguinte o iriam prender e matar. Ao reflectir sobre isto ocorreu-me pensar: o que faríamos se soubéssemos que no dia seguinte iríamos ser barbaramente torturados e mortos? Provavelmente faríamos as coisas mais loucas e egoístas possíveis e imagináveis numa tentativa desesperada de gozar ao máximo a pouca vida que nos restava. Mas Cristo, com a sua serenidade, quis-se despedir com um gesto de partilha. Com isto nos trouxe uma mensagem muito clara de partilharmos com os outros, não só bens materiais, mas também bens espirituais, dar do nosso tempo (é tão difícil fazê-lo…)
É nesta medida que para nós as hóstias representam o Corpo de Cristo, no seu supremo acto de partilha.
Deste modo, quando nos genuflectimos/inclinamos perante o sacrário estamos, no fundo, a venerar a partilha, relembrando a mensagem que Jesus nos deixou – “Fazei isto em memória de mim”, como Ele nos disse.
Por isso, quando eu faço a genuflexão perante aquela caixa dourada procuro pensar (procuro, porque por vezes todos estamos tão afogados nos insignificantes pormenores da nossa vida que não damos valor ao que é realmente importante) no seguinte:
Obrigado, Cristo,
Pela Tua mensagem de amor e partilha
Só Tu és o caminho
Só Tu és a Vida
Ajuda-me a ser como Tu
A dar a Vida pelos meus irmãos.

2 comentários:

Frei Bruno disse...

Viva Daniel.Obrigado, gostei muito da tua reflexão. è mesmo verdade, passamos tantas vezes por aquela caixa dourada e nem pensamos no que lá está. Obrigado pelo teu testemunho.
Um abraço

Tiago Krug disse...

De agora em diante estarei também mais desperto para não deixar com que a correria e os "insignificantes pormenores" não me deixem esquecer também da importância destes gestos que se tornam comunhão!
Outro abraço e um sorriso!